8 de julho de 2012

Monogamia, amor e ciúmes- aspectos culturais-comportamentais


O amor, que, de modo reducionista e bem pouco romântico, é deflagrado por neurotransmissores e consolidado por endorfinas, parece ter origem na forte ligação entre uma criança e sua mãe. Já se constatou que os mesmos hormônios – em especial, a oxitocina – que determinam o amor parental e a atração sexual também promovem uma relação de relacionamento exclusivo, intimidade sexual e compartilhamento de recursos, fatores importantes para manter um pool gênico de qualidade. Assim, o principal papel evolutivo do amor seria a reprodução.
A monogamia foi outro fator de difícil encaixe no panorama evolutivo. Entre os mamíferos, a monogamia é relativamente rara: das cerca de 4 mil espécies, apenas de 3% a 5% exibem esse comportamento.
Nos humanos, a monogamia pode ser encarada como facultativa, já que, historicamente, foi imposta por muitas religiões. Portanto, não seria ‘natural’. Além disso, a monogamia é vista como uma estratégia reprodutiva instável, porque aposta todas as fichas no acerto da escolha inicial.
Acredita-se que a monogamia derivou de situações nas quais havia, de início, poucas alternativas de parceiros para acasalamento – por exemplo, em populações pouco numerosas.
Em contrapartida, espécies não monogâmicas têm acesso a vários parceiros, o que aumenta a probabilidade de obter a melhor prole possível, em termos genéticos. Não seria exagero afirmar que essa guarda do parceiro foi a provável precursora do ciúme, tão presente entre os humanos.A reboque da monogamia veio o comportamento de defesa ou guarda do parceiro, exibido principalmente pelos machos de uma espécie, visando proteger os próprios genes. O benefício seria o acesso permanente ao potencial reprodutivo do(a) parceiro(a), aliado em alguns casos ao cuidado dos filhotes.
É interessante notar que, nessa visão, amor, monogamia e ciúme estão subordinados à reprodução. Talvez choque um pouco a noção de que esses aspectos culturais-comportamentais dependeriam de frios mecanismos fisiológicos, mas reconforta constatar que esse trio inspirou e ainda inspira as artes em todas as suas formas.

Franklin Rumjanek
Instituto de Bioquímica Médica
Universidade Federal do Rio de Janeiro

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