30 de novembro de 2011

ENCALHES DE SOTALIA GUIANENSIS NO LITORAL DO PIAUÍ.


ENCALHES DE SOTALIA GUIANENSIS NO LITORAL DO PIAUÍ.

Aragão, G. M. O1.; Vieira, J. O1.; Magalhães- Neto, M. O1.; Costa, A1.; Clarck, I1.
1 Instituto Ilha do Caju, end.: Av Presidente Vargas, 235 - Centro - Parnaíba - PI / e-mail georgia.aragao@gmail.com


RESUMO 

A IUCN considera Sotalia guianensis como espécie insuficientemente conhecida (BOROBIA & ROSAS, 1991). A caracterização dos grupos de S. guianensis, incluindo aspectos da sua organização social, correlacionando-os com fatores abióticos e bióticos têm sido estudada por alguns autores (LODI, 2003; SANTOS, 2004;AZEVEDO ET AL., 2005) no Brasil. Devido à acelerada degradação do habitat marinho costeiro, estudos sobre a forma como os cetáceos utilizam os ecossistemas em que vivem tornam-se cada vez mais necessários.O estudo de encalhes desses animais pode nos proporcionar o conhecimento necessário para direcionar os esforços de conservação e fornecer dados para uma avaliação anual da taxa de mortalidade dos grupos taxonômicos, causas dos óbitos, sazonalidade dos eventos e associação com atividades humanas potencialmente perturbadoras aos mamíferos aquáticos. O PROCEMA coletou dados de encalhes de 2007 a 2009, registrando 21 encalhes de boto, ocorridos principalmente no período chuvoso. Em todos os espécimes foram encontrados vestígios de interação antrópica. A determinação de áreas críticas à conservação e à elaboração de estudos que visem subsidiar e aprimorar as técnicas de reabilitação empregadas são outras informações relevantes que podem ser obtidas a partir desse acompanhamento (IBAMA, 1999).

Palavras chave: boto cinza, monitoramento e conservação

INTRODUÇÂO

O boto cinza, Sotalia guianensis, é um pequeno cetáceo que apresenta um tamanho médio de 1,70 metros. Essa espécie ocorre desde o sul do Brasil, no Estado de Santa Catarina, até a Nicarágua, na América Central e freqüenta as águas costeiras, tais como enseadas, baías e estuários (HETZEL & LODI, 1993). Apesar de sua ampla distribuição e pelo fato de ser eminentemente costeira, são poucos os estudos publicados com esse gênero de golfinho, sendo considerada no Brasil uma espécie insuficientemente conhecida (IBAMA 2001). São animais que frequentemente interagem com pescadores, sendo o emalhe em redes a interação negativa mais comum e mais relacionada à mortalidade dos cetáceos, que podem ficar emaranhados pelo rostro e nadadeiras nas redes de espera (DI BENEDITTO, 2004). As interações entre os cetáceos e as atividades pesqueiras podem ser classificadas como operacionais e/ou ecológicas. Interações operacionais são aquelas que envolvem a relação entre os cetáceos e os artefatos/equipamentos de pesca, e as interações ecológicas são aquelas que envolvem a relação entre os cetáceos e os pescadores. Tais interações podem apresentar efeitos positivos, negativos ou neutros tanto para os homens quanto para os cetáceos envolvidos. No litoral do Piauí a pesca constitui de uma fonte exclusiva ou complementar de renda. Dessa forma o presente trabalho objetiva quantificar os encalhes de boto cinza que ocorrem no litoral do Piauí e identificar as possíveis causas para tais acontecimentos no período de 2007 a 2009.

MATERIAIS E MÉTODOS

O litoral do Piauí possui 66 km de extensão tendo como limites a Praia da Pedra do Sal, município de Parnaíba e a Praia de Cajueiro, Município de Cajueiro da Praia. No período compreendido entre 2007 à 2009 foram realizados monitoramentos de praia no litoral piauiense. Os dados relacionados foram colhidos durante a atuação do Projeto Cetáceos do Maranhão – PROCEMA, pelo Instituto Ilha do Caju Ecodesenvolvimento e Pesquisa – ICEP, que em suas atividades atuou no atendimento de cetáceos encalhados, vivos ou mortos contribuindo para o incremento sobre informação deste grupo animal na área que compreende a APA do Delta do Parnaíba.
Semanalmente foram percorridos em média 20 km de praia, sendo os monitoramentos realizados duas vezes por semana, em praias distintas, com percurso feito por meio de caminhadas ou com auxílio de automóvel tracionado. A identificação da espécie foi realizada por meio de observações acerca das características morfológicas externas, como coloração, tamanho, formato do melão, formato e localização da nadadeira dorsal e número de dentes (HETZEL & LODI, 1993). Foram também realizadas as medidas morfométricas, propostas pelo Plano de Ação de Mamíferos Aquático (IBAMA, 2001) e identificação do sexo. Interações antrópicas, principalmente relacionadas a atividade pesqueira foram confirmadas devido a presença de marcas no animal encalhado, como cortes para a retirada de musculatura, olhos e nadadeiras, além de perfurações à faca e marcas de rede de pesca.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Durante a realização dos monitoramento de praia foram registrados 21 encalhes de Sotalia guianensis, ocorridos nas praias Pedra do Sal, Atalaia, Coqueiro, Arrombado, Barra Grande e Cajueiro da Praia, pertencentes aos municípios de Parnaíba, Luís Correia e Cajueiro da Praia. A Praia da Pedra do Sal, município de Parnaíba, representa a área de maior índice de encalhes com 14 indivíduos encalhados. Os encalhes foram em maior número no período chuvoso, nos meses de dezembro a março.
Grande parte dos encalhes registrados apresentaram sinais de interação antrópica, tiveram parte de musculatura do dorso, olhos e nadadeiras peitorais e caudal retiradas, bem como foi possível evidenciar a presença de inúmeras facadas no corpo de um dos exemplares. Até mesmo nos espécimes em alto grau de decomposição foram observados marcas de faca nos ossos e vestígios de rede de pesca e cordas.
As marcas encontradas nos animais indicam que houve a retirada de partes do corpo dos botos. De acordo com Barreto (2000), os registros de interação entre cetáceos e os homens são bastante antigos e antecedem a exploração comercial das baleias. O autor afirma que mesmo antes de serem explorados comercialmente, os cetáceos foram explorados para subsistência.
A interação dos cetáceos com as atividades pesqueiras é uma das principais causas de mortalidade, o que é comum em outras regiões do Brasil (MONTEIRO-NETO ET AL, 2000; DI BENEDITTO, 2003; BARROS & TEXEIRA, 1994).

CONCLUSÕES

O litoral do Piauí embora apresente dimensões reduzidas apresenta uma vasta diversidade ecológica. Durante as atividade realizadas pelo PROCEMA /ICEP constatou-se a presença de cetáceos nessa região, sendo a espécie Sotalia guianensis de maior ocorrência.
A exploração direta e a captura acidental em atividades de pesca são responsáveis pela atual condição de ameaça às populações do boto cinza no litoral do Piauí. A ineficiência da legislação brasileira na conservação dos cetáceos é nitidamente vista em tal região.

REFERÊNCIAS

AZEVEDO, A.F., VIANA, S.C., OLIVEIRA, A.M.L., VANSLUYS, M. 2005. Group characteristics of marine tucuxis (Sotalia fluviatilis) (Cetacea: Delphinidae) in Guanabara Bay, south-eastern Brazil. J. Mar. Biol. Ass. U.K., 85: 209-212.
BARRETO, A.S. 2000. As baleias, o Turismo e o Desenvolvimento Sustentável. Gazeta Mercantil. v.636, p. 2.
BARROS, N. B.; TEXEIRA, R. L. 1994. Incidental catch of marine tucuxi, Sotalia fluviatilis, in Alagoas, Northeastern Brazil. Reports of the International Whaling Commission, v.15, p. 265-268.
BOROBIA, M., ROSAS, F.C. 1991. Estado de conservacion de los mamiferos marinos del Atlántico Sudoccidental. Informes y estudios del Programa de Mares Regionales Del PNUMA, Argentina, 138: 36-41.
DI BENEDITTO, A. P. M. 2003. Interactions between gillnet fisheries and small cetaceans in northern Rio de Janeiro, Brazil: 2001-2002. American Journal of Aquatic Mammals Latin,, 2 (2): 79-86.
DI BENEDITTO, A.P.M. 2004. Guia para estudo de cetaceos: interações com atividade de pesca. Vol 1. Campos dos Goytacazes: Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro.
HETZEL, B.; LODI, L. 1993. Baleias, botos e golfinhos: guia de identificação para o Brasil. Rio Janeiro: Nova Fronteira.
IBAMA. 2001. Mamíferos aquáticos do Brasil: plano de ação, versão II. 2. ed. Brasília: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos recursos naturais renováveis, 96 p.
IBAMA. 2001. Mamíferos Aquáticos do Brasil: Plano de Ação, versão II. 2ª Ed. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Brasília, Brasil.
IBAMA. 1999. Proposta de Criação da Rede de Encalhe de Mamíferos Aquáticos do Brasil, Centro Mamíferos Aquáticos, Cristiano Leite Parente. Ilha de Itamaracá/PE. 11p.
LODI, L. 2003. Tamanho e Composição de grupo dos botos- cinza, Sotalia guianensis (van Bénéden, 1864) (Cetacea, Delphinidae), na Baía de Paraty, Rio de Janeiro, Brasil. Atlântica, 25(2): 135-146.
MONTEIRO-NETO, C.; ALVES-JUNIOR, T. T.; CAPIBARIBE-ÁVILA, F. J.; CAMPOS, A. A.; FERNANDES-COSTA, A.; NEGRÃO-SILVA, C. P.; FURTADO-NETO, M. A. 2000. A.Impact of fisheries on the tucuxi (Sotalia fluviatilis) and rought-toothed dolphin (Steno bredanensis) populations off Ceara State, Northeastearn Brazil, Aquatic Mammals, v. 26, p. 49-56.
SANTOS, M.C.O.2004. Uso de área e organização social do boto tucuxi marinho, Sotalia fluviatilis (Cetacea, Delphinidae), no Estuário de Cananéia, SP. Instituto de Biociências, São Paulo, SP, USP. 265p.



RESUMO APRESENTADO NO COLACMAR 2011.

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